Paixão é aquilo que acontece entre pessoas que não se conhecem e o namoro é o momento de validar esse apaixonamento amadurecendo e transformando-o em amor, oportunidade e motivo imperdível para validar o namoro.
A partir de um conhecimento maior, ou mesmo de uma vida compartilhada, via de regra o casal – digo e reforço o casal – se esquece desse momento lúdico, leve e de brincadeiras e surpresa e parte para uma vida pensada e trabalhada como se só restasse essa possibilidade de construir a vida, construir com tijolos e areia fazendo uma argamassa sufocante para as emoções e corpos.
Aquilo que no senso comum chamamos de rotina, mas não uma rotina de comer e beber todo dia tudo sempre igual, mas uma rotina em que privilegia o “ter que “ em vez do “ser amante”.
Nessa fase, a fraternidade, a irmandade, a neutralidade sexual se confirma e a anestesia para os desejos fortalece, só acordando quando aparece uma oportunidade fora daquele projeto de casal, o que tem ocorrido muito com cores fortes e picantes, mas isso é outro assunto.
Está bem, mais terrorista impossível, mas me vejo na obrigação de levantar alguns véus, algumas possibilidades para que se descubram novos caminhos e principalmente para que casais se reinventem a partir dos ideais desse novo homem e dessa nova mulher rumo ao terceiro milênio que é a plenitude da felicidade.
A necessidade de se resgatar o namoro, aquele namoro em que se usava o tempo para conhecer o outro e fazer ajustes na relação, reconhecer as qualidades e os defeitos de um e de outro para que após esse reconhecimento do outro ter os afetos intensificados.
É lugar comum falar-se que os casamentos de hoje estão fluídos, rápidos, desinteressantes e invadidos pela rotina, mas isso na verdade é um grande engano, pois a rotina já se instalou no namoro e me vejo como uma defensora radical da possibilidade do eterno namoro.
Namoro para o conhecimento do outro ou mesmo para manutenção da relação que não é um vestibular, uma corrida de obstáculos, mas antes disso é o encontro divertido e ouriçado da paixão. Isso também se constrói.
Será que ainda existe isso, que nos envolvemos com essa possibilidade ou tudo é uma questão de eficiência e responsabilidade.
Nessa época em que todas as emoções são fugazes perder a chance de namorar é igual rasgar dinheiro, perder um tesouro.
A responsabilidade do namoro não é com o outro, mas consigo mesmo e quando o casal fica amiguinho, a única responsabilidade é com o bem comum, um com o outro e o outro com o um, e isso acaba fazendo com que cada um se afaste de suas reais necessidades.
Na verdade, estou querendo trazer para reflexão que um pouco de egoísmo e de mistério que se faz necessário, pois assim sendo não haverá nunca a certeza de que se esteja completo.
A corrida e a busca para essa completude se torna o movimento, o surpreendente que afasta toda e qualquer rotina.
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