Inútil e fora de propósito, o debate sobre a validade de adotar as campanhas de vacinação como a principal iniciativa para evitar o crescimento do número de mortes ocasionadas para Covid-19 tem conquistado cada vez mais espaços, a partir da politização com o qual o tema vem sendo abordado.
Ícones do esporte e líderes políticos, entre os quais se destaca o presidente Jair Bolsonaro, insistem na falsa tese da pouca serventia das vacinas, levantando suspeitas sobre a proteção que proporcionam sustentados pela ideia de que a liberdade de escolha individual deve sobrepor os interesses coletivos.
A radicalização de posições sobre esse tema, que agora ganha ainda mais relevância a partir da autorização da vacinação também em crianças, tem produzido desinformações e representa mais um entre os muitos obstáculos criados na luta travada contra a pandemia.
É cada vez mais evidente a certeza dos efeitos benéficos produzidos pela vacina, especialmente quando se avaliam os números de internações e óbitos produzidos pela doença. Já se sabe que a grande maioria dos pacientes que hoje enfrentam os efeitos graves da Covid-19 não foram vacinados ou não completaram o esquema vacinal.
Da mesma forma, ao analisarmos a evolução das mortes ocorridos no País antes do uso das vacinas é possível dimensionar o tamanho da tragédia.
A partir do início da pandemia no Brasil, em março de 2020, a média mensal de expedição de certidões de óbitos no Brasil, segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, entidade que representa os Cartórios de Registro Civil de todo o País, passou de 110 mil pessoas para 144 mil ao término do último ano, um aumento de 31%.
Se analisado os números totais, o efeito perverso da doença se torna ainda mais evidente: enquanto em 2019 foram feitos 1,27 milhão de registros, em 2020 foram 1,47 milhão, enquanto 2021 totalizou o impressionante número de 1,73 milhão de óbitos.
Se essa constatação inequívoca não sensibiliza os que insistem em negar a realidade e tentam convencer sobre a pseudo inutilidade das vacinas, é preciso evitar a propagação das informações distorcidas e enganosas, que criam um ambiente de desconfiança e prejudicam o avanço da cobertura vacinal que possibilitará a retomada das atividades com um grau cada vez maior de normalidade.
É de se lamentar que temas dessa relevância sejam tratados de forma leviana e sirvam para fomentar retóricas político eleitorais, sem a observância de elementos comprovatórios e dos resultados que atestem a eficácia das ações promovidas para evitar o aumento das mortes provocados pela doença.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação.
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