Na reta final do segundo turno das eleições municipais, o clima é de ansiedade tanto dos candidatos quanto dos eleitores para saber o resultado. Na Baixada Santista, apenas eleitores de Guarujá e Santos voltarão às urnas neste domingo. A cientista política e professora universitária, Clara Versiani, ressalta que é grande a expectativa para a votação em Santos, pois há 20 anos não ocorria um segundo turno.
Ela destaca que os dois candidatos na disputa, Rosana Valle (PL) e Rogério Santos (Republicanos) representam basicamente a mesma tendência, pois ambos tem o aspecto conservador. “É muito interessante que tenhamos um confronto entre duas forças políticas diferentes que representam o mesmo lado da moeda no final das contas”.
Dessa forma, ela explica, isso representa muito o que a cidade acabou se tornando de perfil mais conservador, uma tendência já de alguns anos. “Notamos o enfraquecimento da esquerda. Nesse primeiro turno, a vereadora Telma de Souza (PT) mostrou que a esquerda ainda tem alguma força, mas o que vemos é que depois de 20 anos, o segundo turno acontece com duas lideranças que vem, do ponto de vista político ideológico, mais ou menos do mesmo espectro, com as mesmas ideias”.
Desafios
Portanto, sobre os principais desafios que os dois candidatos enfrentam nesta reta final da campanha, Clara analisa que o principal é mostrar no que eles são diferentes.
“Tenho visto os debates e entrevistas. Acredito que a grande dificuldade da Rosana Valle é mostrar que ela é oposição. Na verdade, ela tem uma certa dificuldade para evidenciar que ela representa de fato alguma coisa nova, porque eles coincidem em muitas coisas”.
Assim como, Rogério deve conquistar o eleitorado que ainda não conquistou e também tentar buscar os votos de Telma. Com relação aos temas centrais nos debates e campanhas, ela aborda que são basicamente os mesmos como segurança, educação, saúde, mobilidade, investimentos, porto e desigualdade social.
Além disso, a segurança é uma questão que abrange todas regiões da Cidade, não apenas a orla e zona intermediária, mas também para os moradores da Zona Noroeste e Morros.
A cientista política explica que, no entanto, nessas regiões o desafio é maior para Rosana, porque ela foi derrotada por Rogério no primeiro turno nestas áreas. “Ele tem dito nas sabatinas, entrevistas e reuniões que essas foram as regiões que o governo dele mais investiu. Muito provavelmente essa vitória dada ao candidato nessas regiões foi pelo reconhecimento desses investimentos feitos, além de outras alianças que foram importantes nesse processo”.
Telma de Souza
Um ponto importante a se observar o volume de votos da vereadora e ex-prefeita Telma de Souza migrarem para o prefeito, visto que a própria Telma já afirmou diversas vezes ser contra o avanço do bolsonarismo na cidade, além do fato de seu partido ser com viés político de esquerda (PT).
“Nenhum dos dois representam uma tendência de esquerda. Há uma possibilidade dos eleitores votarem naquele que se apresenta como pelo menos não tão ligado ao Bolsonaro. Não podemos dizer que o candidato Rogério é antibolsonarista, pois ele tem apoio do Tarcísio de Freitas, uma vez que ele é apoiado pelo Bolsonaro”.
No entanto, aqueles que são antibolsonaristas e enxergam na candidata Rosana um alinhamento maior com a família Bolsonaro, podem vir a apoiar o Rogério Santos. “Esta seria a tendência”. Mas isso não quer dizer que todos que votaram na Telma votarão no Rogério. É possível que muitos se abstenham”.
Postura
Já sobre a questão das mudanças em relação ao primeiro turno, especialmente referente à postura e propostas dos candidatos, ela aborda que há uma grande ênfase da Rosana sobre se mostrar como oposição propositiva e insistir na alternância de poder. “Eu não acredito que isso seja algo relevante para o eleitorado, porque quem está satisfeito com determinada situação, não vota simplesmente para mudar, quer permanecer naquela situação. A tendência é que as pessoas que votaram para permanecer igual, elas vão continuar no segundo turno da mesma forma”.
Já sobre Rogério, ela menciona que não enxerga muita diferença do que viu nas sabatinas, debates, e propagandas, porém recentemente notou essa postura mais incisiva e direta combatendo os fatos que são chamados de fake news que foram divulgadas contra a campanha dele pelo grupo de Rosana. Clara diz ainda que os candidatos devem buscar esses 100 mil votos dos que se abstiveram e ambos parecem estar focados nisso.
Futuro
Clara também comenta quais os principais desafios que o futuro prefeito (a) terá ao comandar a Cidade. “Acho que um desafio que já vem de um tempo e tem sido apontado nos debates que é a questão da moradia. Os candidatos citam que Santos é a sétima cidade em arrecadação do estado, mas ainda mantém uma parte da sua população em moradias precárias, que são as palafitas. Outro são as enchentes, considerando que nós vivemos em tempo de mudanças climáticas. Associado a isso você ter parte da população vivendo em áreas que não são adequadas para moradias e sofrem muito mais com essas enchentes. O desafio se torna maior”.
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