As vias da Orla (Parte 7) – Avenida Bartholomeu de Gusmão | Boqnews

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17 DE ABRIL DE 2025

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As vias da Orla (Parte 7) – Avenida Bartholomeu de Gusmão

Bartolomeu de Gusmão, o “Padre Voador”, foi o primeiro a dar nome à avenida da orla santista e, em seu início, nomeava toda a extensão da praia

Por: Ronaldo Tarallo Jr.
Da Redação

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Cristãos de todo o mundo se preparam para o período mais importante da religião católica, a Páscoa.

Assim, nada mais justo do que falar da via da orla que leva o nome de um importante padre Jesuíta, sendo pioneiro no modal aeroviário com seu balão de ar quente.

Por isso, foi homegeado dando nome ao logradouro da praia santista.

QUEM FOI BARTHOLOMEU DE GUSMÃO?

Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em 1685, na Vila do Porto de Santos, sendo o quarto dos 12 filhos de Francisco Lourenço Rodrigues e Maria Álvares.

Dessa forma, foi batizado em 19 de dezembro do mesmo ano.

Estudou no Colégio dos Jesuítas em Santos e completou o curso de Humanidades no Seminário de Belém da Cachoeira, na Bahia, sob a proteção do padre Alexandre de Gusmão.

Assim, desde jovem já se dedicava a estudos e invenções, em especial à ideia que o tornaria conhecido: a Passarola, um balão de ar quente.

Seguiu para Portugal, onde se formou em Direito Canônico pela Universidade de Coimbra, em 1720, aos 35 anos.

Era fluente em latim, francês e italiano, e lia grego e hebraico.

No entanto, sua experiência mais famosa ocorreu em 5 de agosto de 1709, no pátio da Casa da Índia, em Lisboa.

Diante do rei D. João V e do núncio apostólico, subiu com um balão cerca de quatro metros, mas incendiou-se ao tocar nas cortinas da sala.

Na segunda tentativa, em outubro de 1709, o balão novamente pegou fogo ao bater numa parede.

Apesar dos fracassos, D. João V ofereceu-lhe uma subvenção anual, mas a Junta dos Três Estados recusou o auxílio.

Perseguido pela Inquisição, foi acusado de práticas mágicas, preso em Toledo e libertado graças à intervenção dos jesuítas.

Doente e abatido, Bartolomeu de Gusmão faleceu na noite de 18 para 19 de novembro de 1724, no Hospital de Misericórdia, em Toledo, na Espanha.

Apesar de ser facilmente encontrado em livro e logradouros seu nome escrito como “Bartolomeu” a grafia correta inclui a letra “H”. Sua vida inspirou inclusive um soneto de Olavo Bilac

RESTOS MORTAIS

Dessa forma, foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a tumba de Bartolomeu de Gusmão, o que só ocorreu em 1856.

Após três negações de entrega dos seus despojos pelo governo espanhol, um pedido do deputado federal paulista Antônio Sílvio Cunha Bueno teve sucesso em 1966.

Assim, parte dos restos mortais foi então transportada para o Brasil e, após passar por várias instituições.

Encontra-se, desde 2004, na Catedral Metropolitana da Sé em São Paulo. Durante anos, a cidade de Santos lutou para trazer seus restos mortais de volta, mas nunca conseguiu.

MONUMENTO

A inauguração do monumento ao Padre Voador, executado pelo escultor italiano Lorenzo Massa, ocorreu em 7 de setembro de 1922.

O evento fez  parte das comemorações oficiais do centenário da Independência.

Assim, em 19 de novembro de 1923, durante os festejos do Dia da Bandeira, foi realizada a cerimônia de inauguração dos candelabros do monumento que não haviam sido instalados na ocasião de sua inauguração devido a uma greve trabalhista na Itália.

Com a instalação dos globos de luz, a obra escultórica ganhou maior destaque.

Durante a cerimônia, a banda de música do Instituto Dona Escolástica Rosa, sob a regência do maestro Aurélio Prado, tocou em um coreto especialmente montado para o evento.

Por fim, em 15 de outubro de 1933, o tenente aviador Oscar Cairó, representando o governo da Argentina, colocou uma palma de bronze no monumento.

Na placa, a inscrição: “La Aeronáutica Militar Argentina a Fray Bartolomé Lorenzo de Gusmán. El imperio de los aires que estaba reservado a los dioses, fué conquistado por el hombre al 8 de agosto de 1709. Año MCMXXXIII”.

ESCOLÁSTICA ROSA

O Instituto Dona Escolástica Rosa foi inaugurado em 1º de janeiro de 1908.

Idealizado por João Octávio dos Santos, a escola surgiu para oferecer educação e formação profissional a meninos em situação de vulnerabilidade social em Santos.

Em 1933, o Dr. Armando de Sales Oliveira, interventor federal, criou a Escola Profissional Secundária Mista.

Portanto, no dia seguinte firmou contrato com a Irmandade da Santa Casa de Santos para o funcionamento da unidade escolar.

O Escolástica Rosa passou a oferecer cursos técnicos profissionais e se tornou uma das primeiras instituições a oferecer essa modalidade no Brasil.

Nos anos 2000, a escola foi vinculada ao Estado de São Paulo, tornando-se uma ETEC, sob a gestão do Centro Paula Souza.

Em 2019, o Centro Paula Souza devolveu o imóvel à Santa Casa após o término do contrato de cessão.

A ETEC foi transferida devido às condições precárias do prédio, como infiltrações e áreas interditadas pela Defesa Civil.

Atualmente, o prédio está fechado e deteriorado. A Santa Casa não possui recursos para restaurá-lo e não apresenta um projeto para o local.

Em 2024, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação civil pública pedindo a desapropriação do imóvel.

A alegação era a de que a Santa Casa não cumpria o legado de João Octávio dos Santos, que doou o patrimônio com o objetivo de manter a educação para crianças carentes.

Assim, diversas propostas para o futuro do local estão sendo discutidas, incluindo a restauração do prédio sem uso definido.

Também há proposta de implantação de um colégio militar e a criação de um Instituto Federal, que visa oferecer educação técnica alinhada ao legado educacional do espaço.

PINACOTECA

No início do século XX, muitas famílias abastadas migraram do centro de Santos para a orla, buscando melhor qualidade de vida.

Entre essas famílias estava a de Anton Carl Dick, empresário alemão dono de um curtume, que em 1908 construiu sua residência à beira-mar, na então Avenida da Barra.

Em 1911, o casarão foi vendido ao exportador de café Francisco da Costa Pires, que permaneceu até 1913.

Na sequência, o imóvel abrigou o Asilo dos Inválidos por oito anos, passando por algumas modificações.

Em 1921, Pires readquiriu a propriedade e realizou uma grande reforma, incorporando elementos Art Nouveau, mármore de Carrara, vitrais da Casa Conrado e jardins franceses.

Entre 1923 e 1935, o casarão viveu seu auge, mas em 1936 foi vendido à Companhia Sul-Americana de Capitalização, que o transformou em um pensionato para moças.

Anos depois, foi adquirido pelo espanhol Antônio Canero, que fez fortuna com ferro-velho e ali viveu com a família até 1978.

Após sua morte, divergências entre os herdeiros deixaram o destino do imóvel indefinido.

Em 1979, a prefeitura declarou o casarão de utilidade pública, mas disputas e indefinições levaram à sua ocupação irregular, transformando-o em um cortiço com cerca de 24 famílias.

Diversos projetos foram propostos até que, em 1986, a Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto foi criada, e o casarão foi destinado a abrigar a instituição.

Após cuidadosa restauração, a Pinacoteca foi inaugurada em 4 de abril de 1992.

Em 2012, o imóvel foi tombado pelo CONDEPASA, sendo reconhecido como o último exemplar remanescente dos casarões da época áurea do café na região.

PRAÇA PAULO VIRIATO CORREA DA COSTA

Localizado no canteiro central entre a Avenida Conselheiro Nébias e a Rua Oswaldo Cochrane, o antigo ponto coberto de parada de bondes, transformado em Ilha de Conveniência.

Tornou-se logradouro oficial após homenagem prestada em 29 de novembro de 2002, na gestão do prefeito Beto Mansur, a Paulo Viriato, uma personalidade santista que presidiu o Rotary Club International.

Atualmente abriga uma base do Samu, totalmente restaurada após passar por um incêncio no inicio de 2024.

A AVENIDA

Em 21 de janeiro de 1914, o vereador João Manuel Alfaia Rodrigues Júnior propos o nome do eminente santista Bartolomeu de Gusmão para a então Praia da Barra, identificada na planta da cidade sob o nome de avenida 300.

Assim, a futura Avenida Bartolomeu de Gusmão passaria a abranger toda a faixa das praias, ligando a divisa com São Vicente até a Ponta da Praia, naquela época terminando pouco antes do que hoje é o canal 6.

A oficialização da nova denominação ocorreu anos depois, com a promulgação da Lei nº 647, de 16 de fevereiro de 1921, sancionada pelo então prefeito municipal, coronel Joaquim Montenegro.

A lei entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1922.

Desde outubro de 2024, com a criação da Avenida Rei Pelé, a via tem cerca de 2,6km, ligando a Avenida Conselheiro Nébias a Rua Carlos de Campos.

Na Baixada Santista, as cidades de Cubatão Guarujá e Praia Grande homenageiam em seus logradouros o Padre Voador.

 

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