No último sábado, as fortes chuvas causaram alagamentos na Baixada Santista, deixando moradores e munícipes completamente ilhados, sem conseguir se locomover nas ruas e até sair de suas próprias residências. Para ter noção o impacto foi tão grande que casas ficaram inundadas, prédios também, principalmente nas garagens subterrâneas e até elevadores. Locais que nunca alagaram passaram por esta difícil situação. Além disso, comerciantes tiveram suas lojas atingidas por conta do triste episódio.
Desse modo, é necessário pensar no que foi feito e as alternativas para solucionarem estes problemas recorrentes.
Prédios
O síndico profissional, Cristiano Santos Cucatti, lembra que um de seus condomínios localizado em Santos foi afetado. “Os principais danos foram nos dois elevadores, além de cinco carros e uma moto no subsolo. Os cinco veículos são de moradores”.
Além disso, houve danos no sistema de CFTV (Circuito Fechado de Televisão), sistema responsável por monitorar e registrar imagens de áreas específicas dos prédios.
Santos aborda que apesar das fortes chuvas, não comprometeu a estrutura do prédio. “Já entramos com a abertura de sinistro junto a segurado, mas o caso ainda está em análise. Nós realizamos a drenagem de toda água do subsolo no dia seguinte. Hidrojateamento das tubulações que foram entupidas pela lama e lixo”.
O síndico informa que foi necessária a recomposição de comporta. “Considero que esses eventos de alagamentos em chuvas de grande intensidade em curto espaço de tempo em paralelo com a maré alta serão cada vez mais frequentes e mais intensos. A Prefeitura pode mitigar alguns riscos com a limpeza constante de galerias. Mas a curto prazo não vejo solução”, concluiu.
Mercado imobiliário
Com os recentes alagamentos na Baixada Santista, é notável pensar que esses casos podem ocasionar em uma desvalorização dos imóveis da região. Presidente do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores do estado de São Paulo), José Augusto Viana Neto, aborda que tal situação ocorre no momento que permanece essa comoção social, porque a partir disso, com certeza as coisas voltam a normalizar.
“Eu trabalho com imóveis há 50 anos, moro na Praia Grande, mas conheço bem Santos, já ouvi em alguns momentos que os prédios tortos na praia seriam desvalorizados, não iriam vender”.
Contudo, na realidade, não é o que acontece. “Você observa que está sendo comercializado até hoje, mas vale lembrar que nós estamos passando por um período de transformação de comportamento ambiental. Se, de repente, essas enchentes continuarem recorrentes em grande número é claro que pode trazer uma preocupação, mas sinceramente não vejo isso, pois tivemos outras situações.”
Ele argumenta que o grande problema no litoral é a soma de dois episódios: quando há chuva torrencial e a maré sobe. “Assim os canais não conseguem dar vazão, assim a tubulação de água pluvial também não consegue e enche tudo. Isso é um fato histórico nas cidades do litoral. Porém, o que chama a atenção é que dessa vez foi uma chuva muito forte e os alagamentos foram muito significativos”.
Prefeituras e síndicos
O presidente do Creci-SP também acredita que as prefeituras têm que entrar com alguma medida ou os síndicos podem ajudar nesta questão.
“Evidentemente que tudo que for fator externo e estiver contribuindo para o agravamento da situação é obrigação das autoridades e também nos prédios os síndicos. Afinal, todo prédio tem bomba de recalque para tirar a água que está lá embaixo, agora se a bomba não está sendo suficiente, será que não é motivo de aumentar a bomba ou colocar uma bomba de maior capacidade para dar vazão?”.
“Com isso, entra uma série de questões que precisam ser vistas pontualmente para cada caso e evidentemente que se for procurar agora pessoas para comprar imóveis nesses prédios que foram inundados, dificilmente iremos encontrar pessoas interessadas.”
Pastelaria
O idealizador da pastelaria A Casa do Pastel Sem Vento, Robson Gonçalves, conta que durante as chuvas, estava no local em atendimento e haviam clientes na loja. Desse modo, incluindo uma criança de 3 anos.

Fortes chuvas alagaram o estabelecimento. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Ele também menciona sobre os danos causados pela inundação. “Todo mobiliário da parte do salão e caixa de pagamento, bebidas, material de delivery e de salão, geladeira, frigobar, equipamentos elétricos (máquinas de cartão, impressoras, notebook), fritadeira elétrica, cabeçotes de 5000w e mais todo material usado para atendimento”.
Ele acrescenta que não foi possível salvar qualquer equipamento, pois quando a loja começou a encher, os clientes foram levados para o piso superior e a energia da parte inferior foi desligada, pois na loja o aterramento elétrico fica no interior do imóvel, por onde também subiu água.
Aliás, Gonçalves menciona que foi feito um levantamento e o prejuízo total é superior a R$ 26 mil. Sabendo da situação, uma amiga da pastelaria fez uma vaquinha online para poder comprar novos equipamentos e custear os reparos. “Essa vaquinha tem sido muito confortante e inspirador para retornarmos o mais rápido possível. Devido o contato com a água suja tivemos que tomar algumas precauções no quesito a infecções.”
Além disso, ele informa que o maior desafio no momento para a pastelaria é a próxima chuva, pois esta é a 3ª enchente do ano. A primeira ocorreu em 2 de janeiro, a segunda em fevereiro e a última no último sábado (19).
Para ajudar nas doações para a pastelaria acesse aqui.
Prefeitura de Santos
Desde a noite de sábado (19) até a manhã de segunda-feira (21), a Prefeitura manteve equipes de várias secretarias municipais e da CET-Santos nas ruas, em todos os bairros atingidos providenciando limpeza, retirada de árvores e desobstrução das redes de drenagem, além de intimar concessionárias de serviços públicos a efetuarem reparos nas redes de áreas com sinistros.
Assim como demais cidades brasileiras, Santos não dispõe de “plano de compensação financeira para afetados pelos alagamentos”. Em casos de moradias interditadas, o Município providencia benefícios como o auxílio aluguel para vítimas. Vale frisar que não houve registro de graves ocorrências e nem de imóveis interditados devido à forte chuva que atingiu a região, na noite de sábado, quando Santos registrou os maiores índices pluviométricos em todo o Estado.
Em nota, a Prefeitura informa que a Secretaria das Prefeituras Regionais (Sepref) mantém equipes nas ruas, em todos os bairros, todos os dias, inclusive finais de semana e feriados, avaliando a situação e providenciando serviços como limpeza, retirada de árvores desobstrução das redes de drenagem entre outros, além de acionar as concessionárias de serviços públicos a efetuar os reparos necessários.
Drenagem urbana
Quanto à avaliação da drenagem urbana, o serviço ocorre diariamente, por uma equipe técnica composta por engenheiros, arquitetos, biólogos, topógrafos e profissionais de apoio, envolvendo cerca de 90 pessoas. Os serviços ocorrem por meio de um cronograma que atende todos bairros ao longo do ano, além das urgências urbanas e ocorrências pontuais. Paralelamente, estão em andamento os estudos para aprimoramento do atual contrato, incorporando novas tecnologias de monitoramento e fiscalização de todo o sistema.
Além disso, afirma a Prefeitura por meio da nota, o maior empréstimo da história de Santos, no valor de US$ 105 milhões (R$ 574 milhões), foi formalizado no dia 30 de agosto do ano passado entre a Prefeitura e o CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe).
“Os recursos serão destinados para o Programa Santos Mais, de macrodrenagem, acessibilidade, inovação e sustentabilidade, amplo conjunto de intervenções para promover mais desenvolvimento e reduzir as desigualdades entre as regiões da Cidade”, finaliza.
Prefeitura de São Vicente
A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos (Sedurb), tem trabalhado nos últimos quatro anos para enfrentar os problemas de drenagem na cidade. Um dos primeiros passos foi a elaboração do Plano de Macrodrenagem, financiado com recursos do Fehidro. Esse plano, concluído em 2023, fez um diagnóstico da situação e apontou soluções, já considerando os efeitos das mudanças climáticas.
Com apoio do Governo do Estado, estão sendo realizadas obras importantes, como a construção do Canal da Rua Eduardo Souto e a instalação de comportas em diversos bairros. Além disso, a Prefeitura também tem feito reparos em áreas de microdrenagem, como na Orla do Gonzaguinha, na Avenida Embaixador Pedro de Toledo e na Rua José Bonifácio.
Já a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) informa haver um plano de assistência para os moradores atingidos por alagamentos, especialmente quando é decretada emergência ou calamidade pública. Com base na Deliberação CONSEAS/SP nº 02, de 25 de fevereiro de 2025, o município recebeu recursos do Estado para oferecer benefícios eventuais, como ajuda financeira emergencial, cestas básicas, itens de higiene e limpeza, roupas, colchões, cobertores e apoio com aluguel social em casos de perda do imóvel.
Para ter acesso a essa ajuda, é preciso procurar o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) mais próximo ou ir até a sede da secretaria. Uma avaliação social será realizada pelas equipes técnicas, a fim de garantir que os recursos cheguem com prioridade às famílias em maior vulnerabilidade. A partir desse diagnóstico, os auxílios serão concedidos de forma ágil, respeitando os critérios estabelecidos e os limites orçamentários disponíveis. Esses benefícios eventuais podem incluir:
- Auxílio financeiro emergencial;
- Cestas básicas;
- Itens de higiene e limpeza;
- Materiais de primeira necessidade (como colchões, cobertores, roupas);
- Apoio para aluguel social (em casos de perda do imóvel).
Prefeitura de Guarujá
A Prefeitura de Guarujá informa que as equipes da Defesa Civil e da Secretaria de Operações Urbanas (Seurb) percorreram a Cidade no último sábado (19), registrando as ocorrências. As vistorias continuam sendo realizadas pela Defesa Civil a fim de avaliar as condições das moradias nas áreas de risco.
Ainda está sendo realizado levantamento para verificar se há famílias desabrigadas. Em caso afirmativo, elas serão cadastradas e encaminhadas para o recebimento dos auxílios necessários.
Por mais eficaz que seja o sistema de drenagem, a vazão das águas pluviais foi prejudicada devido ao volume de chuvas que atingiu Guarujá, totalizando 144,99 mm, superando a média histórica para todo o mês de abril, que é de 133 mm.
Não há registro de formação de crateras e não houve necessidade de alteração no trânsito. Os registros apontados pela Defesa Civil, em sua maioria, foram relacionados a deslizamentos de terra em área de risco e queda de árvores.
No que se refere à prevenção de desastres, anualmente o Município coloca em prática o Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC), quando é intensificado o monitoramento nas áreas de riscos geológicos. Já o atendimento a emergências de grandes proporções segue o Plano de Municipal de Contingência (Plancon).
O Município já recebeu obras de contenção nas encostas dos morros do Macaco Molhado e Barreira do João Guarda, bem como obras na Avenida Dom Pedro, para melhorar o escoamento das águas pluviais, além da macrodrenagem no bairro Santo Antônio, ainda em andamento, para evitar alagamentos.
Além disso, a Secretaria de Operações Urbanas (Seurb), realiza, periodicamente serviço de limpeza nas encostas dos morros, para facilitar o escoamento da água da chuva.
Prefeitura de Praia Grande
A Prefeitura de Praia Grande informa que a chuva ocorrida no último sábado (19) não foi tão intensa quanto em outras cidades da região e não causou estragos na Cidade. Ainda assim, a Administração informa que a Defesa Civil municipal acompanha constantemente estudos de mapeamentos para as áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações/alagamentos pelos institutos IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e o Serviço Geológico do Brasil-CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), contando inclusive com um plano de contingência direcionado a estes fenômenos, com medidas como acionamento imediato das secretarias envolvidas e outros órgãos conforme a necessidade do caso.
Além disso, o órgão implanta anualmente o Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC) entre 01 de dezembro e 31 de março do ano seguinte podendo ser prorrogado caso as chuvas persistam. No PPDC, são adotadas medidas de monitoramento dos índices pluviométricos através dos pluviômetros automáticos do CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), com vistorias nas áreas de riscos a deslizamentos e inundações quando emitidos os alertas pelo CENAD (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres) pelas equipes da Defesa Civil e Guarda Civil Municipal Ambiental.
Durante o PPDC são emitidos os alertas pelo CENAD (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres), caso os índices pluviométricos ultrapassem os limites estabelecidos e também os alertas emitidos pela CEPDEC (Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil), através do SMS 40199, no qual os munícipes podem se cadastrar para receber os alertas.
Além disso, a Defesa Civil de Praia Grande conta com um trabalho voltado para a prevenção chamado Defesa Civil nas Escolas, onde os alunos recebem de forma lúdica o conhecimento básico sobre as atribuições da Defesa Civil.
Áreas com pontos suscetíveis a inundações
Em Praia Grande, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) identificou através de estudos duas áreas com pontos suscetíveis a inundações. Uma delas compreende trechos dos bairros Vila Sônia, Antártica, Caieiras e Quietude e a outra, trechos dos bairros Ribeirópolis e Samambaia.
Prefeitura de Cubatão
De acordo com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Cubatão (Comdec), os alertas enviados antecipadamente às comunidades em áreas de risco na cidade, especialmente ao bairro dos Pilões, resultaram na preparação dos moradores para que não tivessem perdas materiais, apesar do rio ter subido na última chuva intensa, adentrando cerca de 10 residências que ficam próximas ao leito. Não houve ocorrências de vulto na cidade, além dessa, restando apenas pontos de baixo alagamento em que as águas escoaram logo após a tempestade.
Segundo a coordenadora da Defesa Civil Municipal Cristina Candido, os dias de chuvas fortes são os momentos com maior nível de atenção para as equipes da Comdec. Ela informa que não houve necessidade de implantação de nova tecnologia nova para monitorar as 5 áreas de risco na cidade, sendo o acompanhamento feito presencialmente pelos técnicos da Defesa Civil, que percorrem cada uma das áreas todas as vezes em que há índice pluviométrico preocupante ou mediante acionamento dos moradores. “O período chuvoso é sempre desafiador”, comenta Cristina.
Candido destaca ainda que os técnicos realizam vistorias preventivas mensalmente, independentemente do período chuvoso, além de quando há índice pluviométrico preocupante ou acionamento dos moradores.
Áreas de risco
Cubatão possui cinco áreas de risco (deslizamentos e movimento de massa), a grande maioria com médio risco: Pilões, Água Fria, Cota 95 e 200. Apenas Mantiqueira está categorizada como alto risco. As áreas somam cerca de duas mil moradias. Sobre a Mantiqueira, a Prefeitura prevê a retirada das cerca de 150 famílias para unidades habitacionais que estão sendo construídas no Jardim São Francisco.
Ainda segundo a Comdec, o maior volume pluviométrico registrado em Cubatão neste período chuvoso foi em janeiro de 2025, com 305,31mm. O período chuvoso 2024-2025 teve registro de chuva menor que o período anterior de 2023-2024.
Destaca, ainda, que a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Estado de São Paulo prorrogou a execução dos Planos de Contingência de Proteção e Defesa Civil (PCPDC) – Inundação e Escorregamentos – 2024/2025, para todas as regiões do Estado que operam os Planos, até o último dia 15 de abril, mantendo-se todas as ações indicadas nas respectivas resoluções implementadoras dos planos de contingência.
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