Concha Muda? A seguinte pergunta feita por produtores culturais está na boca de muitos santistas, principalmente do setor cultural. Reaberta após anos fechada, com toda a pompa, no último dia 26, a Concha Acústica Vicente de Carvalho, localizada no Canal 3 com a Praia é, mais uma vez, fruto de discussões.
Mesmo com a reinauguração, há limitações que, segundo alguns músicos, limitam e segregam alguns profissionais. Além de proibir instrumentos como bateria, surdo e equipamentos como o retorno de palco, há um controle rígido de decibéis emitidos no local, sendo o máximo 85. Prefeitura e Ministério Público se defendem, e afirmam que a solução foi a melhor encontrada.
Após investir R$ 1,2 milhão na reforma e readequação do equipamento, que ficou fechado após ações de moradores que reclamavam do barulho excessivo causado pelas bandas, a concha foi reaberta com as novas regras, que incomodaram músicos profissionais, como Julinho Bittencourt. “Além de todas as restrições de decibéis, a concha foi encapsulada, trancada, o que é um absurdo sem fim para um local que deveria ser de congraçamento, de união e convivência”, diz.
Para Marcos Canduta, a concha é um equipamento cultural importante pra cidade. “Muita gente boa começou ali, mas seria importante ser usada na plenitude, sem limitações. Desta forma, não seria preciso reformar. Era melhor investir esse dinheiro em outro equipamento, de construir outra, no emissário, por exemplo. Maior e melhor”, diz. No entanto, Canduta acredita que o espaço é melhor aberto que fechado.
Reforma e mais polêmica
A concha foi inagurada em 1981 pelo ex-prefeito Paulo Gomes Barbosa e foi projetada pelo arquiteto Carlos Prates para ser mais um equipamento de lazer na orla. Em relação a posição da Concha – também polêmica – virada para cidade, ele explica que à época levou em consideração a direção dos ventos da orla santista, que predominantemente é de sul, e levariam o som de qualquer forma para os prédios mesmo com a Concha virada para o mar”.
Após anos aberta com o abuso do som alto, um abaixo-assinado se tornou sentença da justiça que proibiu o uso de qualquer sistema de amplificação de som. “Ocorreu quase que uma interdição branca, podia até sentar para contar história sem microfone, mas ficou inviável”, diz o promotor do Meio Ambiente, Daury de Paula, recordando que, à época, se tentou acordos, mas era impossível criar uma proteção acústica.
Os anos se passaram e muito foi feito para que o equipamento voltasse a funcionar. Porém, sem êxito. Até que, ao assumir, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa resolveu retomar a questão. ” O prefeito queria reabrir e fomos procurar o promotor Daury, que disse que do jeito que estava não dava para autorizar. Derrubar era uma opção, passaram várias ideias como derrubar e reconstruir. Só que começa a falar de valores. Tinha um que era tampar tudo. O mais exequível e menos oneroso, que traria mais resultado, foi o projeto escolhido”, conta o secretário-adjunto de Cultura, Rafael Leal. O arquiteto Prates – que conta que ficou triste com o fechamento do local que era para ser um espaço democrático – acredita também que o atual projeto foi o melhor.
De acordo com Ivan Imagawa, da empresa Polus Engenharia – responsável pelo projeto da barreira acústica e agora pelo controle da medição dos décibeis – a ideia foi em manter o projeto orginal, deixando a Concha mais aberta possível mas se adequando a lei para que o espaço pudesse ser reaberto. Toda esta polêmica é besta. Se a rebertura fosse fácil, isso já teria acontecido há muito tempo”, explica.
Após testes, o novo projeto foi aprovado. Hoje, há um controle em tempo real do som que é emitido no local. Se o volume ultrapassar o limite, a multa é de R$ 5 mil/dia, De acordo com o Termo de Ajustamento de Conduta, TAC, assinado entre Prefeitura e MP. “O sistema nos mostra se foi erro humano ou do equipamento. Se foi do equipamento é multa diária até concertar. Se foi humano, duas pessoas ficarão responsáveis pelo controle do sistema e elas pagarão o valor: o secretário de Cultura e o chefe do departamento de eventos”, explica o promotor.
Sobre a restrição, Leal ressalta que “o artista vai onde o público está”. “Os músicos vão tocar lá. As pessoas falam muito com paixão, que se não pode tocar bateria acústica, não tocarão lá. Os músicos tem que se adaptar e vão se adaptar”. Já Daury pondera: “Não existe isso (censura). Existe falta de capacidade. Tem um ditado antigo que diz: quem não tem competência, não se estabelece. “Se um músico for se apresentar no credcardhall (em São Paulo) tem que ter equipamentos compatíveis com o espaço. Assim, se ele quiser tocar na concha terá que se adaptar.
Rafael Leal diz que o equipamento oferecerá outras atrações além da música, como teatro e audiovisual. O projeto “Conchinha”, com peças para crianças, é o primeiro fixo, sempre aos domingo de manhã. Editais também serão lançados para os artistas inscreverem seus projetos. “Faremos uma programação variada para provar que o céu é o limite na Concha Acústica”.