Estudo da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) observou que na última semana de maio e início de junho, todas as praias de Santos e São Vicente foram classificadas como impróprias para banho na Baixada Santista.
Como funciona o estudo?
Para ter noção, em Santos, as praias classificadas como impróprias foram da Ponta da Praia, Aparecida, Embaré, Boqueirão, Gonzaga e os trechos da praia do José Menino (Rua Olavo Bilac e Avenida Frederico Ozanan). Já em São Vicente, são as praias da Divisa, Itararé (Posto 2), praia da Ilha Porchat, praia dos Milionários, Gonzaguinha e Prainha.
Segundo a gerente do Setor de Águas Litorâneas da Cetesb, Claudia Lamparelli, a companhia faz coletas semanais nessas praias para realizar análises microbiológicas. “Para eu classificar uma praia, a gente não se baseia em um único resultado. Eu tenho que sempre olhar os últimos cinco resultados, se tiver dois ou mais acima de 100 enterococos em cada 100 ml, bactéria que usamos como indicador. A praia é considerada imprópria”.
Ela exemplifica que se o primeiro resultado é 30, o outro 50, 120, 200, observando que um é 120 e outro é 200, a praia está imprópria, se tiver só um acima, ela não está.
Motivos
Claudia afirma que na semana do dia 19 de maio, quando houve uma chuva forte na região, houve um aumento dessas concentrações de enterecocos, valores muito altos assim como no dia 26.
Nessas duas semanas, os valores ultrapassaram os 100 enterococos em 100 ml. Ela explica que como são semanas com valores altos, mesmo que as outras três anteriores tivessem indicadores menores, essas praias ficaram impróprias. Portanto, para elas ficarem próprias, deve apenas um desses resultados ficar alto e os outros quatro seguinte baixos.
Como a Cetesb possui convênio com a Prefeitura de Santos, ela também analisa as praias e por isso a companhia tem mais resultados do que no caso de São Vicente. Por isso, a classificação se altera com uma frequência maior. Ela disse que para Santos voltar a ter valores baixos, se parar de chover, elas vão ficar próprias, como ocorreu na última quinta (13), com todas praias estão próprias, porém em São Vicente elas continuam com a bandeira vermelha.
Já em São Vicente que não possui essa parceria, ainda deve haver um tempo com elas impróprias, enquanto durarem essas duas semanas com valores altos, provavelmente três semanas ou mais. Ela cita que na semana anterior abaixou bem, mas algumas praias como Milionários, Gonzaguinha e Prainha continuam altos, pois ocorreram valores acima de 1.200 no dia 26. Já na primeira semana de junho, baixou um pouco, mas os valores estão acima de 100. “Se baixar nas próximas quatro semanas, elas voltam a ficar próprias”.
Anos
Comparando o mesmo período de 2023 e 2024, em Santos a Ponta da Praia e Aparecida estavam próprias no final de maio e no ínicio de junho ficaram vermelhas. Já em São Vicente, Praia da Divisa, Itararé (Posto 2) e Praia do Ilha Porchat estavam próprias e permanceceram no início de junho.
A gerente aborda que não é possível explicar essas comparações, pois dependem de uma série de fatores. Essa época não chove muito, um período que teoricamente as praias vão melhorando, então o número de praias impróprias diminuem até julho e agosto.
Em geral, agosto há poucas praias impróprias, porque chega o período da estiagem, porém mesmo assim, as praias podem ficar com bandeira vermelha. “No caso de Santos, se a chuva for muito forte e tiver que abrir os canais, elas vão ficar impróprias mesmo no inverno. O regime de Santos e São Vicente são bem diferentes, porque Santos tem canais com as comportas e São Vicente não tem, estando mais sujeitas a questão da poluição de fungos, então não dá para analisar um mês do ano interior e comparar com o de agora”.
Prefeituras
A Prefeitura de Santos por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Semam) de Santos informa que a balneabilidade é medida a partir de análises feitas pela Cetesb. A Prefeitura salienta que o principal fator que determina os níveis de balneabilidade é a rede coletora de esgoto, de responsabilidade da Sabesp, com a qual a Semam desenvolve várias ações conjuntas, visando apoiar a concessionária do serviço.
A Cidade possui 99% de ligação de esgoto e todo o sistema possui interligação ao emissário submarino, que despeja o material, após tratamento, a 4,5 km do litoral. No entanto, a Semam entende que há uma relação direta entre a balneabilidade e o volume de tratamento de efluentes lançados por todos os emissários submarinos existentes nos demais municípios da Baixada Santista.
No caso de Santos, há ainda questões geográficas a serem consideradas, notadamente o fato de praias estarem inseridas em uma baía, com conexão direta com o canal do porto e municípios vizinhos, dos quais sofrem influência direta, principalmente no que se refere às ligações irregulares e/ou clandestinas nestas cidades.
Já a Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Semam), informa que analisa dados apresentados e, a partir disso, elabora estratégias eficazes para combater os problemas de poluição no mar.
A Semam destaca que a região é estuarina, toda interligada por braços de rio e canais, apresentando considerável concentração de habitações subnormais, indústrias e atividades portuárias, o que dificulta a identificação das fontes de poluição.
Ainda destaca que a Sabesp implementa programas destinados a ampliar as conexões de esgoto no município, enquanto as obras nos canais de drenagem desempenham papel crucial na identificação de fontes poluidoras e contribuem para a redução de poluentes descartados de maneira irregular.
Contaminação
Segundo o microbiologista e professor da Unifesp, Gustavo Grecoracci, sobre os principais indicadores de contaminação em uma praias, os mais fáceis de monitorar são bactérias indicadoras fecais, mas outras bactérias (principalmente patogênicas), fungos e parasitos podem ser indicadores também.
Em relação aos riscos para a saúde humana com uma praia imprópria, ele informa que potencialmente são infecções entéricas como diarreia ou de pele como micoses. Mas na prática os estudos não são tão decisivos e vários não encontram impactos na saúde humana mesmo com patógenos presentes.
Sobre a conscientização pública dos problemas de contaminação, ele aborda que parte dessas consequências podem derivar dos próprios usuários. “Mais conscientes eles podem optar por práticas mais saudáveis e ajudar a mitigar os efeitos das contaminações. Podem também atuar junto dos órgão públicos para que medidas eficazes de gestão sejam adotadas visando a saúde pública”.
Além disso, existem várias medidas que são positivas para melhoria na qualidade das praias. Os critérios adotados pelo programa Bandeira Azul por exemplo parecem ser bem efetivos.
Atividades humanas
Ele também menciona que as atividades humanas influenciam na qualidade das praias, como esgoto doméstico sem tratamento adequado ou descartado de forma irregular podem introduzir patógenos e eutrofização. “Efluentes industriais podem trazer uma miríade de compostos químicos com efeitos prejudiciais, incluindo metais, poluentes orgânicos e microplásticos. Urbanização excessiva e irregular acarreta menor cobertura de captação de esgoto, ou mesmo sobrecargas na rede, impermeabilização de solos, poluição, entre outros problemas que podem implicar em pioras na qualidade das praias”.
Sobre como os governos e as comunidades locais podem trabalhar juntos para proteger e preservar as praias, o professor aborda que são adotando práticas mais saudáveis no uso e para gestão das praias, cobrando políticas que evitem efluentes domésticos e industriais nas praias, praticando bons hábitos de higiene, descartando adequadamente o lixo.
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