Quando criança, cabeludo, juba crescida, topetudo, chegava a hora de cortar a “crina” no Lucas ou no Anacleto, barbeiros do centro de Santos.
Com direito a um caixote na cadeira, começava o pique e pique das tesouras afiadas e rápidas.
Máquina na tosa, navalha raspada na borda do couro cabeludo, talco. “Próximooo!!!”
Na faculdade, anos 70, cabeludo e avesso a tesouras, me deparo com outro barbeiro: o inseto transmissor da Doença de Chagas. Casas de pau a pique, recheadas de barbeiros, milhares de brasileiros já se foram pela doença, que ainda existe e resiste.
Já formado, tiro carta de motorista e deixo a fase de barbeiro no volante pra trás. Adeus!
Na meia idade, tomo gosto por arte e assisto “O Barbeiro de Sevilha”, famosa ópera de Rossini.
Muito bonita, longa e boa de ser vista uma só vez, a história fala da figura do “barbeiro-cirurgião”.
Típicos do Brasil Colônia, eram extremamente hábeis nas tesouras, pentes, sangrias, curativos, drenagem de abscessos e extração de dentes, além de ótimos nas piorreias (doenças da gengiva).
Atendiam nas calçadas, casarões ou em domicílio, e utilizavam óleo de oliva aquecido como antinflamatório, sanguessugas para limpeza do sangue, pastas e pomadas com propriedades cicatrizantes, xaropes catárticos ou purgantes prontos para a limpeza dos intestinos.
E, assim, chegamos aqui, com tudo já tão distante e diferente…
A conversa está boa, mas preciso ir. Ir ao barbershop – o barbeiro versão moderna, século 21, mas que não abriu mão da tesoura nem da navalha – para aparar o pouco que ainda me resta.
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