O episódio que culminou com a trágica morte de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), após discussão motivada por preferências políticas, soma-se a outros fatos e ocorrências que revela a crescente onda de atos violentos derivados da intolerância resultante da polarização estabelecida no debate eleitoral, especialmente na disputa pela Presidência da República.
Estimuladas e propagadas pelas redes sociais, as reações e o não aceite a posições contraditórias ganharam dimensões nunca vistas e agora chegam às ruas e ao cotidiano configuradas pelas ofensas morais, pela difamação e, o que pior, pela violência física com consequências imprevisíveis.
Por mais que se queira diminuir a dimensão dos riscos gerados pelo fanatismo e radicalismo crescentes, torna-se necessário mobilizar esforços para evitar a repetição de atos dessa natureza, por meio da atuação policial preventiva e, especialmente, pelo engajamento dos partidos, candidatos e meios de comunicação na valorização das práticas democráticas, que pressupõe o respeito às divergências de ideias e de opinião.
Discursos que estimulam o ódio e atos antidemocráticos devem ser condenados com rigor e veemência.
Apesar das imperfeições do sistema vigente – e o conceito pejorativo que forja a imagem da prática eleitoral -, ainda é o exercício do voto livre e democrático o principal instrumento de transformação de uma sociedade que busca justiça social e prosperidade.
Por isso, seu valor não pode ser diminuído ou desprezado, mesmo que se condene muitos daqueles que fazem mau uso dos seus conceitos e princípios.
O amadurecimento do regime democrático, a partir da redemocratização do País, propiciou valiosa experiência aos eleitores, porém ainda não propiciou o entendimento de que o respeito à vontade da maioria não significa o total desprezo à ideologia das minorias.
Também já se sabe que as melhorias desejadas para a sociedade brasileira não ocorrerão pela força de milagreiros ou pelas mãos dos arautos de ideias fáceis promovidas pelo marketing eleitoral.
Portanto, mais do que estimular a presença do eleitor nas urnas, é de se esperar que a escolha de seus representantes se dê de forma serena e civilizada, com o entendimento de que o processo eleitoral não abriga inimigos nem donos da verdade, mas apenas ideários divergentes e diferentes formas de se atingir os mesmos objetivos.
Mais do que nunca o País necessita de um ambiente de paz para solucionar os graves problemas que afetam a população, sejam quais forem os resultados a serem abstraídos do pleito eleitoral.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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