Mesmo tendo registrado queda na taxa de homicídios em quase a totalidade dos estados brasileiros, os resultados apresentados pelo Atlas da Violência 2021, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, não deixa dúvidas sobre a urgente necessidade da adoção de medidas visando conter a escalada de violência que há décadas assola todas as regiões brasileiras.
No ano passado foram 41,1 mil mortes, 3 mil a menos que o ano anterior, colocando o Brasil, em números absolutos, no topo da lista dos países mais violentos do mundo.
Como já sabe, a maioria das vítimas tem em comum o fato de morar em localidades pobres, em favelas e periferias, onde as políticas públicas oferecidas pelo estado inexistem, abrindo espaços para a ação da marginalidade e à atuação de grupos de milícia, que estabelecem leis próprias deliberadas por tribunais do crime.
Soma-se a isso a atuação desastrada da polícia que, a título de estar praticando “autos de resistência” acabam por vitimar também muitos inocentes, entre eles crianças mortas por balas perdidas.
São assassinatos promovidos em conflitos de quadrilhas de traficantes, assaltos, mas também como consequência de execuções cometidas por policiais em serviço, fora do serviço, integrantes de esquadrões da morte e milícias, assassinos de aluguel e ocorridos dentro de prisões.
Em determinadas ações, o uso de força policial excessiva, estimulado por autoridades governamentais, tem levado à morte suspeitos de crimes que deveriam ser apenas presos, e de pessoas inocentes atingidas nas proximidades dos locais de operação.
A quantificação da violência deixa mais do que clara a urgente necessidade de priorizar a adoção de políticas consistentes nessas localidades, introduzindo ao mesmo tempo profundas mudanças nas instituições policiais brasileiras, com o aperfeiçoamento dos métodos utilizados até aqui e, sobretudo, com a valorização e qualificação dos profissionais que atuam nessas corporações.
Sem contar com infraestrutura adequada, com sistemas de formação deficientes e oferecendo salários incompatíveis com a realidade que a atividade requer, a polícia assemelha-se a uma facção em meio aos conflitos urbanos estabelecidos, onde mata-se para não morrer.
A sociedade brasileira não pode aceitar passiva a continuidade dessa barbárie, sem exigir providências concretas das autoridades constituídas. Mais do que nunca é necessário dedicar maior atenção às áreas sociais para atendimento das populações residentes nas periferias, medidas para conter a guerra silenciosa que hoje está estabelecida na prática.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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