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23 DE ABRIL DE 2025

Os caminhos de Bolsonaro e Lula

Gaudêncio Torquato

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A pergunta é recorrente: Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República, será preso?

Se for condenado pelo Supremo Tribunal Federal e preso, haverá uma convulsão social?

E se for anistiado pelo Congresso Nacional, ganhando condição de elegibilidade, seria um candidato competitivo à presidência da República em 2026?

Para tentar responder às questões, este analista se ancora em alguns condicionantes, a começar pela hipótese da prisão do capitão.

Vamos lá. O julgamento de Bolsonaro correrá por alguns meses.

Não será curto como se pode imaginar, mesmo que o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante tenha conseguido apoio ao pedido de urgência de votação do Projeto de Lei Anistia.

Passando na Câmara, irá ao Senado, voltará à Câmara, se houver alterações, devendo cair no Supremo, antes de receber a sanção do presidente.

Endossada por 262 deputados federais dos 513 que integram a Câmara, a solicitação de urgência virou um cabo-de-guerra entre oposicionistas e situações. Vejamos as razões.

Assinaram o pedido 146 deputados de partidos que compõem a base do governo Lula, representando mais da metade (56%) do total de assinaturas, viabilizando sua tramitação.

Surge a primeira dúvida: deputados da base governista votariam contra a orientação do governo?

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, já está em campo tentando convencer os correligionários da base governista a retirar seu apoio à votação ao Projeto.

O presidente da Câmara, Hugo Mota, que tem a prerrogativa de compor a agenda de votação, prometeu submeter a questão ao colégio de líderes. Não quer decidir sozinho.

Quanto às manifestações de rua, teriam o condão de influenciar ministros do STF ou o corpo parlamentar?

Ora, se há no país um grande contingente de eleitores bolsonaristas, há também um considerável número de eleitores que se opõem ao capitão e um terceiro grupo, que mantém certa distância dos dois protagonistas.

É o que se lê nas pesquisas: há, no país, 30% de eleitores bolsonaristas ou de direita, 30% de eleitores lulistas ou de esquerda e 30% de leitores que se posicionam no centro do arco ideológico.

Os restantes 10% se repartem entre os três blocos, mudando de posição ao sabor das circunstâncias.

Os parlamentares, por seu lado, têm um olho voltado para o altar de São Francisco (…é dando que se recebe….) e outro para as ruas.

Até meados do próximo ano, estarão na fila do balcão de recompensas. Depois, olharão para as ruas.

Continuemos a análise. Consideremos que Bolsonaro, por um desses artifícios que só a arte da política pode explicar, venha a ser candidato.

Consideremos, também, que Lula, mesmo sob o peso dos 80 anos, a completar em outubro de 2016, decida enfrentar o pleito. (Hoje, 62% do eleitorado acha que o presidente não deveria concorrer à reeleição por causa da idade). Seriam competitivos? Qual o adversário mais conveniente para ambos?

Para Bolsonaro, o melhor adversário seria Lula, com o qual pretende transformar o pleito em um terceiro turno.

O presidente, da mesma forma, gostaria de ter o capitão como adversário.

Para eles, um repeteco da campanha de 2022, com o país dividido e polarizado, seria mais conveniente. Que chances teriam?

A resposta pede uma olhada nos compartimentos da geladeira.

Se estiverem cheios, em setembro/outubro de 2026, Lula será favorito; se estiverem vazios, Bolsonaro liderará a linha de frente da corrida.

Explico. O fator de maior significação na planilha da viabilidade eleitoral é o estado geral da economia.

Daí a insistência deste escriba em usar a recorrente equação com que analisa as possibilidades dos protagonistas.

Recorro à equação BO+BA+CO+CA: BOlso, BArriga, COração, CAbeça.

Se o bolso do consumidor, nas proximidades do pleito, garantir a geladeira sempre cheia, a barriga saciada satisfeita e o coração agradecido levarão a cabeça do eleitor a votar no candidato que lhe proporcionou bem-estar.

A recíproca é verdadeira.

Se Bolsonaro for impedido de se candidatar, seu legado político caiará no colo do governador Tarcísio de Freitas, de SP, um perfil técnico que conta com a simpatia do eleitorado paulista, o maior do país, com 36 milhões de eleitores.

Suas chances de chegar ao Planalto são boas. E se Lula declinar da candidatura, quem iria para seu lugar?

O PT sinaliza um nome asséptico, fiel ao ideário socialista. Fernando Haddad poderia ser esse nome?

Sim, mas sua viabilidade dependerá do desempenho no Ministério da Fazenda.

Mais uma questão relevante: a situação mundial terá impacto sobre o quadro eleitoral? A resposta também é sim.

O tarifaço de Donald Trump abriu acirrada guerra comercial.

Com a menor tarifa de importação aos produtos vendidos aos Estados Unidos, o Brasil, ao lado de outros, terá condições de se beneficiar da crise desses tempos de trumpulência.

Mais dúvidas persistem: saberá o Brasil aproveitar a oportunidade de expandir sua balança comercial?

O país deve incrementar seus negócios com a China. Qual seria a reação norte-americana ante o estreitamento de relações do Brasil com a China? Haveria retaliação por parte dos EUA?

Tudo isso deve pesar na balança eleitoral. Lula continuará a atirar em Trump, coisa que tem feito em suas falas de palanque?

O eleitorado parece aprovar o papel de Davi (Lula) contra Golias (Trump).

A “Guerra do Tarifaço”, como se pode inferir, impactará sua candidatura.

O candidato à reeleição, com o manto de São Jorge, o Santo Guerreiro, tem condições de vencer o Dragão da Maldade, cujo embaixador, no Brasil, é um ex-capitão do Exército, chamado Jair Messias.

 

Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político

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