A dificuldade do presidente Lula em formar uma base de apoio consistente no Congresso evidencia a necessidade de revisão dos métodos utilizados até aqui visando sensibilizar deputados e senadores para aderir às pretensões e projetos defendidos pelo atual Governo.
A unissonância parlamentar, que ao longo dos últimos anos caracterizou e facilitou as relações entre parlamentares e o Executivo, já não existe mais em razão do crescimento numérico dos parlamentares que mantém posições antagônicas e demonstram pouca disposição em contribuir, exigindo maior empenho no trabalho de convencimento e articulação política.
Assim, apesar dos discursos bem intencionados de lideranças das casas legislativas, dando conta de que o Congresso se empenhará com afinco em debater temas de interesse do Estado, dificilmente há demonstrações de disposição nesse sentido.
Isso porque, distantes de exercer o real papel de orientação e fiscalização do Poder Executivo, os congressistas há muito se desvirtuaram de suas funções primordiais e, descontadas raras exceções, hoje transformaram seus gabinetes em balcões onde são negociados cargos e liberação de emendas parlamentares.
Mais do que nunca está clara a necessidade de se promover uma ampla reforma no modelo político vigente, a partir da redefinição do real papel que os legislativos devem exercer no regime democrático adotado no País, considerando-se os custos de sua manutenção e os benefícios gerados aos brasileiros.
Nesse sentido, diante das muitas imperfeições identificadas no atual modelo, oneroso e ineficaz no atendimento dos reais interesses da população, é de se esperar uma maior participação dos organismos de representação da sociedade civil na cobrança e formulação de propostas dirigidas à construção de um mecanismo político-institucional atualizado às novas demandas e, sobretudo, especialmente rigoroso na definição dos critérios mínimos que devem orientar o aceite das candidaturas aos cargos eletivos no País.
Esse papel de agente participativo e fiscalizador deve ser cumprido de forma efetiva e contínua.
O desinteresse e a omissão tornam férteis os espaços para a proliferação da corrupção e perpetuam a existência dos maus políticos, tornando mais distantes as soluções dos principais problemas enfrentados pela coletividade.
Cobrar o aprimoramento do sistema, é bom que se ressalte, não representa um atentado à democracia, mas sim buscar a justificativa para um regime que, na prática, tem produzido poucas vantagens à população que, ao final, sempre paga a conta dos descalabros.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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