‘Tarifaço’ de Trump, uma janela para o agro brasileiro | Boqnews

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16 DE ABRIL DE 2025

‘Tarifaço’ de Trump, uma janela para o agro brasileiro

Wolney Arruda

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Poderia ser uma novela mexicana, daquelas com reviravoltas a cada intervalo comercial.

Mas segue os parâmetros do “Tio Sam”, uma série de Hollywood, com orçamentos bilionários, egos inflados, efeitos colaterais globais e um protagonista que adora incendiar o roteiro pelas redes sociais.

Donald Trump voltou à cena com mais um capítulo do tarifaço — como sempre sem avisar os roteiristas da economia mundial.

Desta vez, o ataque foi direto: tarifas sobre produtos chineses subiram para 125%, com aplicação imediata.

A justificativa? A tal “falta de respeito” da China com os mercados mundiais.

Enquanto isso, vários países ganharam um alívio temporário — entre eles, o Brasil, que permanece com uma tarifa fixada em 10%.

Para quem acompanha esse tabuleiro há algum tempo, nada surpreende: Trump joga no caos, aposta no impacto e, não raro, colhe dividendos eleitorais com o barulho.

O mercado, como sempre, reagiu com oscilação e nervosismo.

Mas no Brasil, curiosamente, o Ibovespa fechou em alta, impulsionado pelas ações da Vale e da Petrobras.

Um alívio pontual em meio ao vendaval global, mas que sinaliza uma leitura pragmática dos investidores: onde há crise, há também oportunidade.

E é aí que entra o agro. Se há algo que esse setor aprendeu, é encontrar espaço em meio ao colapso alheio, também chamado de resiliência.

Durante o primeiro governo Trump, quando o embate com a China esquentou, a soja brasileira disparou para patamares históricos — justamente porque a China precisou buscar no Brasil o que parou de comprar dos EUA.

A lógica agora é a mesma. Com o novo tarifaço, os chineses vão cortar ainda mais as compras dos americanos. E quem está na linha de frente para assumir esse espaço? BRASIL!

Soja, milho, proteínas animais como carnes bovina e de frango devem surfar nessa onda.

Os europeus também podem redirecionar as importações. Não por solidariedade, mas por necessidade.

Já produtos como café e laranja, mais dependentes do mercado americano, tendem a enfrentar uma travessia mais turbulenta.

Mas mesmo nesses casos, uma tarifa de 10% ainda é um refresco diante do muro tarifário imposto aos chineses.

Mais que isso: se a nova configuração perdurar, há quem projete até a migração de indústrias globais para o Brasil.

Afinal, exportar para os EUA com uma tarifa de 10% começa a parecer um bom negócio diante dos 125% cobrados de outros países.

O Brasil pode deixar de ser só fornecedor de matéria-prima e passar a ser alternativa estratégica para manufatura com acesso ao mercado americano.

No câmbio, o efeito foi imediato. Com os mercados tensos e investidores correndo para o dólar como porto seguro, a moeda americana ultrapassou R$ 6,05.

Para o exportador rural, isso significa mais reais por tonelada vendida. Um alívio em meio à escalada dos custos e à pressão sobre as margens.

É verdade que os insumos importados ficam mais caros — mas no saldo final, o agro ganha tração.

Já no cenário dos juros, o sinal amarelo acendeu. Em um cenário mais instável, o dinheiro fica mais caro.

Aquela curva de queda da Selic que parecia desenhada para os próximos 12 a 24 meses agora pode ser adiada, ou melhor, cancelada. Isso deve influenciar em um insumo fundamental do agro- o crédito.

O tarifaço de Trump está longe de ser o último episódio dessa série.

Pode ser que, como antes, os protagonistas sentem à mesa, negociem, encenem uma trégua e tudo volte ao “normal”.

Pode ser que não. O fato é que, neste capítulo atual, o agro brasileiro tem uma janela de oportunidade escancarada diante dos olhos.

Quem estiver preparado para entrar em cena, tende a sair fortalecido quando os créditos subirem.

 

Wolney Arruda é administrador de empresas e presidente do Plantae Agrocrédito.

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