Ano de 2030.
Era uma vez um país tropical chamado Brasil. Um lugar de dimensões continentais, habitado por mais de 200 milhões de pessoas de todas as raças, culturas e credos.
A população, que era composta majoritariamente por jovens, foi substituída por pessoas mais velhas, com 50 anos ou mais.
A expectativa de vida aumentou e a taxa de natalidade caiu. Portanto, a população começou a decrescer. Não por acaso, hoje o Brasil é um “país idoso”, com mais pessoas acima dos 60 anos do que jovens até 15 anos.
Um contador populacional muito utilizado em 2020 já previa esta ocorrência: a cada 21 segundos um brasileiro completava 50 anos e a cada 28 segundos outro celebrava 60 anos. Como ninguém prestou atenção nos números, o Brasil dormiu jovem e acordou velho em menos de 10 anos.
Hoje, o mundo tem 2 bilhões de idosos e o Brasil a 5ª população mais velha do planeta.
O governo criou o Ministério da Longevidade e o Imposto 60+, que é cobrado das empresas para suprir o Fundo Social do Idosos porque muitos não estão qualificados para o mercado de trabalho e de quebra ainda sofrem a concorrência injusta das máquinas e da inteligência artificial.
Além do imposto, todas as empresas que operam com seres humanos são obrigadas a contratar, pelo menos 30% de profissionais acima dos 50 anos. O ambiente de trabalho multigeracional e diverso é obrigatório por lei. Quem descumpre é severamente multado.
Não existem mais aposentados. Todos são considerados aptos até quando a saúde permitir. Quando param de trabalhar por motivos de força maior, começam a receber a Renda Social do Fundo Social do Idoso, que corresponde a cinco salários mínimos, ou seja: 6 mil reais.
Quem se retira nestas condições tem acesso prioritário ao SUS – Sistema Único de Saúde, que se tornou um modelo para o mundo. A Previdência é subordinada ao SUS, pois sabidamente, o custo da prevenção é bem mais barato que da internação. Por essas e por outras, a expectativa de vida média do brasileiro subiu para 90 anos.
Para os idosos que não têm casa própria, o governo criou Condomínios Sênior – similares aos BNHs do século passado – construídos na forma de casas ou edifícios, totalmente equipados para preservar a qualidade de vida desta população: equipamentos esportivos e de lazer, serviços médicos, cinema, auditório e cursos diversos para longlife learning estão disponíveis em todas as unidades.
Como o sistema não absorve toda mão de obra sênior, o governo instituiu o Programa Multigeracional de Empreendedorismo, estimulando que jovens e profissionais experientes se unam para desenvolver produtos e serviços.
Várias startups nasceram e prosperam a partir deste programa. A maioria vinculada a comércio eletrônico e bancos digitais. Novos negócios estão surgindo, em especial os que se baseiam em relações humanizadas que é uma qualidade nativa dos profissionais experientes.
Por outro lado, a presença intensiva de máquinas nos ambientes de trabalho tem elevado os índices de stress-tech, que é uma síndrome moderna provocada pelo uso excessivo da tecnologia dentro das empresas.
As relações profissionais orgânicas são mais saudáveis, mas muitas organizações optam pela robotização em alta escala, para execução de tarefas antes executadas por humanos. Para conter esta prática, o governo limitou o percentual de robôs em 40%.
Quem ultrapassar paga um pedágio elevado, que é somada ao Imposto 60+ cobrado de todas empresas que utilizam tecnologia, em maior ou menor escala, em suas operações.
Os experts em longevidade confirmam que os resultados têm sido excelentes. Os idosos que deixaram o mercado de trabalho estão atendidos em suas necessidades básicas de sobrevivência, com garantia mínima de qualidade de vida.
Os economicamente ativos estão empregados ou empreendendo, o que lhes permite gerar a renda necessária para manutenção pessoal e da família.
O governo tem se mostrado atento ao envelhecimento acelerado da população, a ponto de exigir a modernização do Estatuto do Idoso e o fortalecimento do Conselho Nacional do Idoso.
Na mesma linha de atuação, tem estimulado a atuação proativa dos Conselhos Municipais e Estaduais na formulação de programas e políticas públicas voltadas para o respeito e proteção ao idoso.
Nova lei eleitoral exige que 30% dos candidatos a eleições majoritárias e proporcionais tenham 50 anos ou mais e que defendam causas vinculadas a esta população.
Por fim, todo município tem, obrigatoriamente, que disponibilizar um espaço para qualificação digital do profissional sênior, para permitir que ele tenha maiores e melhores condições de se inserir no mercado de trabalho.
Ricardo Mucci é jornalista, palestrante, arquiteto de inovações de impacto socioeconômico. Ricardomucci.com
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