Com a aproximação das eleições fica cada vez mais claro que o eleitor, de forma geral, vive um momento de inautenticidade na política, onde raramente se abrem espaços para os novos nomes e rostos.
E se isso ocorre, sinal que a sociedade vive em uma democracia de audiências e de auditório, onde profissionais da comunicação, como os da TV, e também os influencers das redes sociais ganham popularidade, seguidores e, por consequência, votos.
A análise é da jornalista e cientista política, Christiane Disconsi.
Ela lançou o e-book Guia Prático das Eleições na Baixada Santista disponível no Instagram da profissional e também na plataforma Hotmart.
Christiane participou do Jornal Enfoque desta sexta (20), onde falou sobre o guia e também analisou o cenário eleitoral da Baixada Santista.
O guia contempla uma série de informações sobre os candidatos e detalhes eleitorais nos nove municípios da Baixada Santista ao longo de 72 páginas – em formato on line.
“Exigiu bastante pesquisa e paciência”, destacou.
Inautenticidade
Com sua experiência, a cientista política citou exemplos que corroboram a inautenticidade na política, com a volta de candidatos para participar das eleições, seja no Executivo, seja no Legislativo.
Cita o caso de Itanhaém, onde o atual prefeito, Thiago Cervantes, e dois ex-prefeitos (Forssell e Marco Aurélio) disputam o cargo no Executivo.
Além do retorno à disputa municipal de nomes como Alberto Mourão (Praia Grande), Farid Madi (Guarujá) e Telma de Souza (Santos).
Aliás, todos ex-prefeitos em suas respectivas cidades.
“Noto uma certa apatia e preguiça em relação ao novo. Muitos eleitores acabam votando em quem já conhecem”, explica.
E os novos nomes surgem de pessoas com atuação nas redes sociais e na TV.
“Chamamos de democracia de audiências ou de auditório”, explica.
Esta situação, aliás, ainda é mais comum nas disputas ao Legislativo.
Casos de políticos que ganharam projeção na mídia, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, há décadas no Congresso antes de se tornar presidente.
Além do deputado Tiririca, que apesar de estar perdendo votos ao longo dos últimos quatro mandatos, ainda se garante no Congresso – graças ao PL, que conta com a maior bancada (99 deputados) e acabou o beneficiando.
Ela cita o caso do candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, como o grande exemplo desta eleição para ilustrar o termo.
“Temos de um lado a inautenticidade (não são autênticos). Além de pessoas ávidas pela disrupção. Não é o novo político, mas pessoas que usam sua notoriedade de democracia de auditório”, salienta.
Ou seja, usam a mídia e, em especial, as redes sociais para se prevalecer.
E ganhar votos.

A jornalista e cientista política Christiane Disconsi lançou o guia eleitoral da região e analisou o cenário político. Foto: Carla Nascimento
Mulheres
Assim, a cientista política falou também sobre a participação das mulheres nas eleições.
A chapa tem que ser formada por 30% de mulheres.
Mas nota que em muitos casos, elas estão apenas para cumprir cotas, a despeito de serem a maioria das eleitoras.
Muitas, aliás, se tornam ‘laranjas’ neste processo, com recursos sendo desviados para outras finalidades.
“Não dá para achar que elas (as cotas) vão resolver esta questão. Isso inflou este tipo de comportamento”, destacou.
A profissional também falou sobre o boom de jornalistas mulheres que entram na política.
“As jornalistas têm a imagem exposta e passam ao público a imagem de que são a única forma de resolver o problema e atender a demanda da população”, explica.
“É um bom combo”, reconhece.
Assim, segundo ela, a situação é semelhante ao dos candidatos que surgem das redes sociais.
“É mais um capítulo da democracia de auditório. É a soma da aptidão e o fato de ter maior exposição”, enfatiza.
Debates
A profissional também enfatiza que a medida que a data eleitoral se aproxima (eleição em duas semanas, aliás), os bastidores entram em ebulição.
E os debates ainda têm ponto central nesta questão – vide o episódio envolvendo os candidatos à prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena e Pablo Marçal, onde o primeiro deu uma ‘cadeirada’ no segundo – fato que aumentou a rejeição a Datena, mas não necessariamente a popularidade de Marçal.
“Ainda que os formatos não permitam discussões aprofundadas de projetos é na hora dos debates que o eleitor vê quem é quem”, explica.
Em tempo: na região, TVs Santa Cecília, Record e Tribuna já agendaram as datas dos seus debates com os quatro candidatos à prefeitura de Santos.
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