O encerramento desta série não poderia se dar por outro trecho, do que aquele que é o fim (ou inicio) da cidade e da orla santista.
Ligando São Vicente a Avenida Anna Costa, a Avenida Presidente Wilson foi o segundo logradouro oficial da praia.
Assim, até hoje é único trecho que contém construções dos dois lados da via.
No entanto, a região também é conhecida pela prática de surf e muito lembrada pelos bailinhos que aconteciam no Caiçara Clube.
Atualmente com a inauguração do Parque Roberto Mário Santini, é comum ver pessoas passeando ou praticando esportes por ali durante 24h.
QUEM FOI PRESIDENTE WILSON?
Woodrow Wilson nasceu em 28 de dezembro de 1856, na Virgínia (EUA), e faleceu em 3 de fevereiro de 1924, em Washington, D.C (EUA).
Formado em ciências políticas, foi professor e, em 1902, tornou-se presidente da Universidade de Princeton.
Assim, em 1910 entrou para a política como governador de Nova Jérsei pelo Partido Democrata.
Com isso, dois anos depois venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos, assumindo o cargo em 1913 e sendo reeleito, governando até 1921.
Portanto, Wilson esteve no comando dos EUA durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), período que influenciou profundamente sua política.
Em 1918, propôs os “14 Pontos para a Paz”, documento que visava estabelecer um equilíbrio duradouro na Europa e prevenir novos conflitos.
A partir dele, foi criada a Liga das Nações, precursora da ONU.
Pelo seu esforço em promover a paz mundial, Wilson recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1919.
Dessa forma, tornou-se o segundo presidente americano a receber essa distinção durante o mandato.
Sua política externa ficou conhecida como “Wilsonianismo”, baseada na ideia de que os Estados Unidos têm a responsabilidade de promover a democracia no mundo.
PÉ NA AREIA
O bairro do José Menino, em Santos, começou a ser ocupado no final do século XIX.
Destacava-se pela construção do luxuoso Hotel Internacional, inaugurado em 1894 por José Estanislau do Amaral.
Assim, inspirado em balneários europeus, o hotel oferecia salões de baile, concertos e áreas exclusivas, tornando-se um símbolo de sofisticação.
Entre seus hóspedes ilustres esteve o escritor Monteiro Lobato, que passou ali sua lua de mel em 1908.
Por essa razão, o local também sediou importantes eventos políticos, como o jantar em homenagem ao presidente Afonso Pena, em 1906.
Ainda em 1906, o hotel foi vendido à empresária Elisa Poli, fundadora do Parque Balneário Hotel.
UB
Apesar dos esforços para revitalizar o empreendimento, as dívidas levaram à sua concordata.
Nos anos 1930, o hotel passou às mãos de Alfieri Martini, que o readequou para eventos sociais e corporativos.
Portanto, a valorização do bairro, impulsionada pela macadamização das avenidas da orla em 1910, beneficiou o hotel, embora este tenha perdido prestígio a partir de 1914 com a ascensão do Parque Balneário Hotel no Gonzaga.
A demolição do Hotel Internacional no final dos anos 1950 marcou o fim de uma era glamourosa em Santos.
Assim, em seu lugar, entre as décadas de 1960 e 1970, foram construídos os dez edifícios conhecidos como “Pé na Areia”, erguidos diretamente nas areias da praia do José Menino.
A área já estava nos planos de urbanização desde 1947, no “Rascunho preliminar do Plano de Santos” do engenheiro Prestes Maia.
O projeto foi aprovado em 1960, com o apoio do deputado Gustavo Martini, herdeiro do antigo Grande Hotel Martini, localizado na região.
Os prédios construídos obedeceram ao Código de Obras da época, que previa a ausência de muros e o uso de cercas vivas ou jardins para demarcar os terrenos.
No entanto, essa estética foi gradualmente abandonada por questões de segurança.
CLUBE XV
O Clube XV foi fundado em 12 de junho de 1869, durante um sarau na casa de Antônio Pinho Brandão, na Rua Áurea (atual General Câmara), em Santos.
O encontro reuniu quinze jovens idealistas, que desejavam criar uma agremiação voltada à cultura, causas sociais e abolicionismo, em contraste com a Sociedade Carnavalesca Santista.
Dessa forma, o nome “Clube XV” remete ao número de fundadores, propositalmente sem a preposição “dos” para evitar um tom de exclusividade.
Inicialmente, o clube funcionava na casa de Brandão.
Assim, o crescimento do número de sócios levou à mudança para os casarões gêmeos do Valongo (atual Museu Pelé), em 1873 e, posteriormente, à aquisição do primeiro imóvel próprio em 1877, na Rua Itororó.
No entanto, em 1883 mudou-se para a Rua General Câmara e, em 1894, para a Rua Amador Bueno, onde se firmou como o principal centro social da elite santista.
Acompanhando as transformações urbanas, o clube se instalou, em 1919, em um palacete na Av. Conselheiro Nébias, na esquina com a Rua 7 de setembro.
Na década de 1930, migrou para a Av. Presidente Wilson, nº 13, no Gonzaga, ocupando um antigo cassino, que se tornou referência dos grandes eventos da cidade e que também havia sido o local que deu o nome ao bairro, o bar do seu Gonzaga.
Dessa forma, seu auge ocorreu nos anos 1960, com a construção de uma sede moderna na Av. Vicente de Carvalho, nº 50.
Projetada por Francisco Petracco e Paulo Saraiva, a nova sede foi premiada na 10ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 1969, simbolizando o último grande momento de prestígio do clube.

Sede Clube XV (1969-2000) – Foto: Clube XV
DECLÍNIO
A partir da década de 1990, o Clube XV entrou em declínio com a redução no número de associados e no interesse pelas atividades sociais.
Na tentativa de se reinventar, a sede premiada foi demolida, e, em 2011, foi inaugurado um hotel no mesmo local, em parceria com um grupo imobiliário.
No entanto, o contrato revelou-se prejudicial, gerando dívidas e culminando em um passivo de quase R$ 16 milhões.
Hoje, o Clube XV luta para se manter vivo em meio a dívidas e falta de associados.
As sedes do Clube XV:
(*) Rua Áurea, 152 (1869 a 1872)
(*) Larqo Marquês de Monte Alegre (1873 a 1877)
1) Rua Itororó, 25 (1877 – 1883)
2) Rua General Câmara, 68 (1883 a 1894)
3) Rua Amador Bueno, 193 (1894 a 1919)
4) Rua Sete de Setembro, 70 (1919 a 1934)
5) Av. Presidente Wilson, 13 (1934 a 1969)
6) Av. Vicente de Carvalho, 50 (1969 a 2000)
7) Rua Azevedo Sodré, 149 (2000 a 2011)
8) Av. V. de Carvalho, 50, 4º e 5º andares (2011 – Presente)
(*) Provisórias
CAIÇARA CLUBE
O Caiçara Clube, em Santos, foi fundado em 1958, a partir de uma dissidência da tradicional Sociedade Carnavalesca Santista, que existia desde 1857 e era voltada principalmente à organização dos festejos de Carnaval.
Assim, insatisfeitos com a limitação das atividades da Sociedade Carnavalesca, um grupo decidiu criar uma nova agremiação que oferecesse não apenas eventos festivos, mas também atividades sociais, esportivas e de lazer.
Dessa forma, o clube se estabeleceu no bairro José Menino, próximo à divisa com São Vicente, onde se consolidou como um importante espaço recreativo da cidade.
Contudo, nos primeiros anos do século XXI, o Caiçara Clube, assim como outras agremiações tradicionais da cidade, passou a enfrentar graves dificuldades financeiras devido à queda no número de associados e à mudança no estilo de vida das novas gerações.
Como consequência, o clube teve de vender sua sede no José Menino.
Houve negociações com o grupo Walmart para a compra do terreno, mas, devido à legislação de uso e ocupação do solo vigente na época, o projeto não pôde ser concretizado.
Em 2005, a antiga sede foi vendida a um grupo imobiliário e a agremiação foi incorporada ao Clube dos Ingleses, marcando o fim de uma era para o Caiçara Clube como entidade independente.

Caiçara Clube (2004) – Foto: Carlos Marques/A Tribuna
EMISSÁRIO SUBMARINO
Em 1978, foi inaugurado o Emissário Submarino de Santos, com a presença do então presidente da República, Ernesto Geisel.
A estrutura, instalada no bairro José Menino, possuía 1,75 metro de diâmetro e foi implantada a 12 metros de profundidade, avançando 4 quilômetros mar adentro, com o objetivo de afastar os efluentes da orla através das correntes marítimas.
Assim, em novembro de 2009, foram acrescentados mais 425 metros de dutos, aumentando a eficiência do sistema.
Em 26 de janeiro de 2010, foi inaugurado o Parque Municipal Roberto Mário Santini sobre a estrutura do emissário, encerrando 30 anos de disputas judiciais.
Dessa forma, com 42.766 m², o parque oferece áreas de lazer, esporte e convivência, como ciclovia, pista de skate, playground, Museu do Surfe, heliponto e acessibilidade.
O projeto é do arquiteto Ruy Ohtake e conta com escultura da artista Tomie Ohtake.
PRAÇA CIDADES IRMÃS
A Praça Cidades Irmãs – Embaixador Sérgio Vieira de Mello, localizado em frente ao Emissário Submarino, é uma homenagem ao diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, vítima de um atentado terrorista em 2003, em Bagdá.
Assim, celebrando sua trajetória de 34 anos na Organização das Nações Unidas, onde atuou em diversas missões humanitárias e ocupou o cargo de Alto Comissário para os Direitos Humanos desde 2002.
portanto, o monumento é composto por elementos que simbolizam a união entre Santos e suas cidades-irmãs ao redor do mundo.
Escultura central: uma cabeça em bronze de Sérgio Vieira de Mello.
Pedestais: três dispostos lateralmente em semicírculo.
Mapa-múndi em mosaico: apresenta as cidades-irmãs de Santos, marcadas com placas de metal.
Espelho d’água: atravessado por uma passarela que dá acesso aos pedestais.
Terreiros das cidades-irmãs: representados por cavidades circulares cobertas de vidro, distribuídas ao longo da passarela.
Apesar de não haver placas de rua, é um logradouro do abairramento oficial.
ILHA URUBUQUEÇABA
A atual Zona Leste de Santos — que vai da Vila Mathias até o José Menino e a Ponta da Praia — pertenceu, no século XVIII, ao capitão Francisco Cardoso de Menezes e Souza.
Ele adquiriu a área em leilão público em 1760, tornando-se o maior latifundiário da cidade.
Dessa forma, entre suas posses estava a então pouco valorizada Ilha Urubuqueçaba, cujo nome tupi significa “pouso dos urubus”.
Assim, com sua morte em 1799, as terras foram divididas entre os herdeiros.
A parte que incluía a ilha foi comprada por José Honório Bueno, conhecido como José Menino, que batizou o local como Sítio do José Menino.
Casou-se com Gertrudes Maria Madalena em 1817, mas ao se separarem em 1827, Gertrudes herdou a ilha, mas faleceu sem deixar herdeiros em 1844, devolvendo a posse a José Menino.
Após sua morte em 1855, os herdeiros, endividados, leiloaram os bens da família.
Por essa razão, a ilha passou então para Manuel Lourenço da Rocha, e, após sua falência, foi comprada por Rodolfo Wanschaffe em 1888, que pretendia construir pontes para fins portuários — plano que foi barrado legalmente.

Ilha Urubuqueçaba. Foto: Ronaldo Tarallo Jr.
SANATÓRIO
Em 1891, vendeu a ilha a Júlio Conceição, que idealizou um sanatório para tuberculosos, mas o projeto não foi concretizado, e sua empresa faliu.
Dessa forma, a massa falida foi adquirida pela Economizadora Santista, e em 1922, a ilha foi vendida a Armando Arruda Pereira.
Em 1927, passou para o empresário José Avelino da Silva, que na década de 1940 propôs um luxuoso complexo turístico, também sem sucesso.
A posse foi transferida em 1944 para Joaquim Avelino da Silva, que sonhava com um boulevard sobre o mar, ligando a ilha à Avenida Presidente Wilson, projeto igualmente fracassado.
Na década de 1960, o construtor Claudio Peres Castanho Doneux apresentou um ambicioso projeto com edifícios, hotel, ponte, concha acústica e museu.
Apesar do planejamento avançado, o projeto não saiu do papel. Doneux manteve a posse da ilha até sua morte, nos anos 1970.
Atualmente a Ilha pertence ao município e é um local de preservação ambiental.
A AVENIDA
Assim, após a Primeira Guerra Mundial, em 9 de outubro de 1918, a Câmara Municipal de Santos homenageou o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, devido à sua influência na diplomacia.
O vereador Heitor de Morais propôs que a Avenida Ana Costa fosse renomeada para Avenida Presidente Wilson,pelo seu papel na guerra.
No entanto, houve discordâncias quanto à substituição do nome da avenida.
Por fim, a proposta foi modificada e o nome Presidente Wilson foi atribuído à praia do José Menino, substituindo o nome de Bartholomeu de Gusmão na faixa entre a Avenida Ana Costa e a Divisa Santos-São Vicente.
A Avenida Presidente Wilson foi oficialmente registrada em 16 de fevereiro de 1921, entrando em vigor a partir de 1º de janeiro de 1922, com a assinatura do prefeito coronel Joaquim Montenegro.
Na Baixada Santista, apenas São Vicente também homenageia o presidente americano
Aproveito o fim da série para agradecer aos leitores, no último dia 21 de abril o projeto Vias de Santos completou seu primeiro.
Inicialmente somente no instagram, em tão pouco tempo cresceu, ganhou espaço no Boqnews e segue mantendo viva a história de Santos por meio de suas Vias.